domingo, 2 de dezembro de 2012


Eu estava sentindo que a morte já vinha
Que a morte bem vinha, pra perpetuar.
Eu sentia no peito um aperto sem jeito,
Sem jeito fui ficando pra dizer.
Mover.
Pensar.

Eu sentia a morte feito saudade apertada
Do que nunca vi ou tive nostalgia.
E eu sabia que era ela quem vinha:
Com todo glamour,
Enaltecia 
A alma de viver.
E então sentia a morte chegando mais perto,
Mas de perto  parecia já deixar de perceber.




02/12/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um breve apelo político.


   E, mais uma vez, o tempo de eleições é inundado de senso comum e uma quase competição entre quem tem mais capacidade de reproduzir a retórica populista. Será que os votos ao Russomano foram reflexos da vontade do povo em querer “variar”, sair dos “polos PT-PSDB”? Será que ainda há tanta gente não conformada, que acredita que a realidade não é estanque?
   (Mas... Quais os diagnósticos que cada candidato tem do problema? O que estão propondo para resolvê-lo?)
   A política é, naturalmente, um jogo conflitante – que envolve diversos atores sociais e que, contudo, possibilita a participação desses para uma maior democratização. Então, acredito que agora seja um momento de muitas indagações seguidas de muita reflexão (e vice-versa).
   (Será que a questão do mensalão realmente impactou nas eleições tanto quanto alguns previam? Ou será que chegamos a um ponto em que os nossos problemas são maiores que a moralidade e a ética?)
   O fato é que estamos em tempo de pensar para votar: Observar a contrariedade das ações (e omissões) políticas de governos anteriores e as condições para empreendê-las- leia-se: para projetá-las através da iniciativa em detectar “nós críticos”, formulações, estratégias, operação. 

É tempo de pensar como ator social de uma sociedade civil democrática.



domingo, 23 de setembro de 2012

Olhos dos meus olhos.

Os seus olhos têm ondas
Ondas que puxam e afogam, respectivamente, os meus.
Ondas que parecem, de tão ligeiras, não quererem regressar à praia por onde passo.
Quando essas ondas vêm, no entanto, vêm traiçoeiras me arrastar para o fundo deles
E o fundo deles é um azul meio amarelo, mas bem azul- um mar que é tocado pela luz do sol entre nuvens.
Mergulho e boio, nessas águas, com a imaginação.

Os seus olhos dizem o que as palavras não são capazes.
(As palavras são a areia molhada que enterram meus pés, na beira do mar).
Quantas coisas atravessam esse mar? Quais pessoas atravessam-no?
Caravelas e miragens?Barcos e beijos?...Eu?
Queria morar de frente pro mar dos seus olhos.
Queria que só fossem meus.




sábado, 2 de junho de 2012

-    O que Fernanda quer viajando sozinha?
-      Quer fazer o que não pode, mãe? Quer sumir; ir de bicicleta, ou a pé, andar como uma louca por lugares desconhecidos;  quer aprender a outra língua, quer...se embriagar?
-        Perguntarei a ela, -e resmungando continua- sempre tem alguma coisa.
Mas enquanto corre a hora, entre café, livros e solitude...

(Um dia ainda irei até lá buscar as minhas roupas no armário dele – ele não se desfez delas, desfez? Um dia vou buscar.
E vou levar um pouco de éter, do perfume nos cabelos e na roupa. Vou de corpo inteiro. Volto de corpo inteiro, e com alguns anos a menos).

Corre a descrença tímida e muda de que Fernanda vai abrir asas e voar. Ela saboreia a liberdade de um jeito muito impessoal. E os amores, os erros, a quentura... Sente tanto, que chega a se sufocar – mas onde estão eles, Fernanda...?Onde estão?

(Um trocado amassado no bolso; dois projetos incompletos na pasta; desejo por doce que derrete na boca; a despedida de um sonho tranqüilo e maternal - por que meus ombros doem tanto? Por que a espera é longa?).

Na faculdade, o professor, com um sorriso aberto, diz: Fim de semana e férias são quase sempre sagrados, sabia?
Mas Fernanda debocha, e demonstra: não é assim tão cristã. 

sábado, 26 de maio de 2012


Como é graciosamente longínqua a ideia de carregar um filho seu. Fiquei montando e, depois, emoldurando, na minha cabeça, como ele e as coisas seriam: Ele teria olheiras leves sob olhos fundos; teria um sorriso malicioso como quem acaba de fazer algo errado; um jeitinho metódico; a barriga fofa.
Que lindo é o filho que não temos! Todos diriam que é a sua cara. E eu ficaria tentando achar semelhanças, entre mim e ele, na orelhinha, no nariz ou nas manias. Ele seria todo você - a vó diz que os meninos sempre puxam o pai.
Eu o ensinaria o português e o mandarim, você o inglês britânico e, sem admitir, o ensinaria como ter a sua postura, a comportar-se como você.
Todas as vezes que o visse, o viria com a inconformidade de ter, um dia, odiado crianças. Todas as vezes que o visse abraçar a sua batata da perna, se inclinaria, só um pouco, para passar as mãos nos cabelos do pequeno, e voltaria a se pôr na coluna rigorosamente reta -mas com os olhos já polidos de severidade, e afáveis.



Cabe duas de mim neste seu agasalho? Cabe, entre a gente, um pouco mais que tesão, culinárias e segredos.
Vamos tomar tequila ou um suco refrescante? Vamos viajar para qualquer lugar, ou andar sem destino? Vamos fumar um cigarro, cantar Los Hermanos, tirar foto de tudo?
Vamos ter o nosso filho, o nosso cômodo no nosso canto?
Eu te amo.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

álgebra da amizade.


De tantas ideias que inundaram a minha mente, cheguei a pensar que, num soluço, eu explodiria e me desmancharia em palavras desconexas, um bocado de letrinhas soltas no ar.
Não imaginas, mas... Não te escrevi logo depois do livro roubado e presenteado, porque eu queria que as palavras viessem para mim como vêm agora – estranhamente casuais.
Will, não sei explicar muito bem coisas tão concretamente factuais como a nossa amizade. Queria fazer algumas metáforas, para tentar dizer melhor:
Cobertura vegetal. Quando cai a chuva e cai antes sobre as folhas das árvores a chegarem com menos impacto no solo... sabes, me causa isso: tudo o que é problema - chuva forte – que derramo sobre  você, você minimiza a fazer que até mim chegue só o que já foi em parte suportado; aliviadas gotinhas que penetram num campo real como um solo que, apesar de úmido, não afogam os meus pés.
Quando torço uma roupa e meus braços ficam mais fortes, talvez seja como torcer aquelas angústias que a falta de conhecimento me traz. E, por exemplo, a conceituação do que é o amor ou do que é a família, destorcem o pano. Por alguns instantes, chacoalho a roupa como se chacoalhassem as outras tantas concepções advindas dessa e... E a visto – agora com os músculos, dos braços, descontraídos, mas com a sensação de estar ainda mais forte; menos angustiada.
Enquanto você quase transforma as abstrações em objetos palpáveis, por ter tanto domínio das coisas que diz, eu só consigo pensar em um pouco de literatura e análises de linguística. Não consigo nem dizer.
Sim, descobrimos o amor e por isso não vou tentar fazê-lo caber aqui (nem metaforicamente). Atrevo-me ainda menos, quando tampouco espremo os dizeres afetuosos a serem ditos na tentativa de aqui fazê-los caber - com um pouco de fidelidade -  ou de fazê-los compactarem com aqueles mais dispersos na mente por um triz de um soluço.
Frente à convivência, à confiança e tudo o mais, resta-me me desculpar pela falta de completude e lembrar-te daquele conto em que Dito morreu – conhece esse?
Pois bem. O fato é que Dito morreu e, nessas horas, convenço-me de que só eu, Guimarães Rosa e Miguilim, conhecemos a dor da perda do dito.






Para: William Paniccia Loureiro Junior.
=)

                                                                                   



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Terra à vista!

Se tem uma terra que não se anda, é a terra do coração.
É uma terra, moço, que eu não quero que pise, e que eu não queria pisar.
Mas se vires bem, virá:
É a terra pr’onde a gente vai.
Pois outras não têm, no passado e nem no agora,
Pra a gente viver ou regressar.

Pegue logo os seus troços e roupas;
Pegue logo suas coisas todas, e bote-as na mochila;
Pegue cá, logo, a minha mão, moço, e vamos pra lá.
Não hesite, num faça hora...
Nós não vamos mais ficar:
Vamos para ficar.

Lá, na terra do coração, ninguém mais há de ir.
Vamos viver cotidianamente e, por vezes, fora do cotidiano.
Podemos até acordar para vidas diferentes todos os dias;
Podemos! ...Vamos?
E vamos, juntos, todos os dias,
Dormir e acordar.



sexta-feira, 11 de maio de 2012

sinestesia embaralhada.


            Caminho, todos os dias, pelo mesmo caminho de todos os dias, com os mesmos olhos endurecidos. Caminho até você, às vezes, sem querer. Mas, involuntariamente, quando está sozinho, meus olhos se arrastam e te fazem companhia pelos corredores. Acompanham e admiram.
            É assim todas as vezes. Não que’les sejam encantados por você... é que já senti sua voz encostar na minha nuca, e o seu beijo alisar a minha orelha.  É que seu cheiro era amargo, que sua voz era quente, e que o contrário também procedia: Sua voz também era amarga, seu cheiro também era quente.
            Eu não entendi mais nada depois que você começou  a me aparecer em forma de frio na barriga, e gostinho de cafeína. O meu coração começou a respirar e minha respiração a bater.
            Não sei de mais nada:
                                                                                                        Está
                        
tudo
                      
                          delirando

                                        entre                                   os                     
                                                                                                         
                                                                                                       meus                                         sentidos.









domingo, 6 de maio de 2012

... Ficamos assim por juntar os dedos, quando o que eu queria era juntar (um pouco) os nossos destinos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Texto mal vestido.


Na primeira aula de linguística, se aprende que o analista transita entre três intenções: a intencionalidade do autor, a do leitor e a da obra. E daí sai todo o sentido da semiótica – todo o sentido de haver estratificações entre significante e significado (e de haver um significante dando acesso ao significado).
Tirando a percepção caótica que isso tudo engloba...Eu gosto da ideia essencial da semiótica.
Gosto da autonomia que pode ter os meus discursos mesmo quando presos numa expressão tão simplista.
O que eu concebo e o que eu guardo, o que eu construo de mim e o que você constrói, a partir de um enunciado; a forma de dizer e o que é dito, a paixão e a persuasão, a intencionalidade discursiva e a minha intenção, a partir de um arrebatamento descuidado dos dedos ou da fala.
Digo, aqui, como se soubesse bastante sobre semiótica. Você lê e acredita ou... você lê e ri, pela ingenuidade com que isso é escrito.
Sem muito pretexto ou caráter moral, acho que queria inaugurar com vocês a simpatia desse pragmatismo (quase-paranóia) que é pensar que todo discurso pressupõe uma roupagem - efetivamente factual só para o enunciatário.
Ai, que lindo! Que louco!




terça-feira, 17 de abril de 2012

O rosto dele e ele.


O rosto dele não é uma ilustração dos seus sentimentos. Parece que ele não gosta de se deixar sentir nada, não quer deixar transparecer nenhum interesse nunca; e faz isso sem o menor esforço.
Ele tem lábios nem muito finos, nem carnudos demais. Quando sorri, o superior se reduz e dá espaço pro meu sorriso.
De todo o resto, o que há de menos implícito nele são os olhos. E assim mesmo são forrados, cobertos de mistério e quase sempre encolhidos; quase sempre silenciosos. Minha intuição diz que ele mora por completo, ali, dentro deles, e mal sabe o porque disso.
É como se ele fosse capaz de ler cada pessoa, como um narrador onisciente. E, ao fazer isso, indiretamente me intima a tirar mil análises e interpretações de seus gestos e características.
Para mim, o rosto dele e ele estão distantes de todos os planos, entendimentos e conclusões. Não podem ser evidências, mas também não podem ser anulados. São sonhos duplamente impossíveis.
O rosto dele e ele, para mim, é todo um par de olhos sem coração.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Do Intangível.

Eu queria dizer que passei o dia inteiro com o coração em uma mão, o mouse em outra e a cabeça perdida em algum instante no ontem; que conectei o carregador do celular no celular, mas não na tomada; que fiquei lutando e relutando, bravamente, comigo para tentar estudar e para que, a partir do momento que você aparecesse online em alguma rede social, a tentativa fracassasse de vez.
Eu queria dizer que me sinto uma criança de três anos por mal te conhecer, e reler, com devoção, suas falas sem acentos e com autenticidade.
Eu queria dizer que ri das lembranças de minutos antes, e continuei rindo quando os minutos passados viraram horas atrás. Queria dizer que fiquei me perguntando o que farei quando te ver; me perguntando se se eu premeditasse um comportamento, me lembraria dele e agiria no momento preciso; perguntando-me como era possível ocupar a imaginação com tão poucas circunstâncias de condições nos envolvendo.
Eu queria tanto dizer. Eu queria tanto saber.
Até que, finalmente diante de você, as minhas vontades e dúvidas restringem-se a:
- Olá. Tudo bem?
(-:


domingo, 8 de abril de 2012

A rotina, o relógio, a resignação.


Penteava o cabelo com os dedos (um ou outro travava num ou outro nó, até deslizarem todos juntos, e encontrarem-se no início d’outros fios) enquanto o “zumzumzum” das conversas - de fundo - tentavam, persistentes, interromper os meus pensamentos - de superfície.
Pensava sobre a ânsia da verdade abstrata ser... verdade. Eis que minha rotina começou a me corromper.
Os meus olhos sentiam sono, meu corpo sentia um marasmo. E os meus olhos se comportavam de modo tal que fechavam, abriam, olhavam para os cantos mais próximos, e repetiam esse processo uma quantidade considerável de vezes. Dentro da minha cabeça eu cantava, resmungava e exclamava: como seria prazeroso mentir!
Uma mão encostou no meu ombro, como algo tão pesado quanto a consciência de ter sido um tanto cruel nas minhas imaginações.
Sacodi a cabeça, pisquei rapidamente os olhos. Senti-me sendo resgatada de uma vertigem central.
Um pouco zonza ainda, com as aventuras que tivera vivido dentro da cabeça, disse: Oi... – e com os olhos mais atentos, o reconheci - Nossa, quanto tempo!
O papo não perdurou muito, foi como uma outra vertigem de vias estreitas, cheias de declives, e desvios e curvas e... estava tão difícil andar com a conversa! Eu queria, mas ela carregava uma pesada carga de passado, acompanhada de um coeficiente de atrito muito maior que a minha força (ou capacidade) de dirigir.
Então, de repente, era eu, o relógio e a sua onomatopeia. Movimento harmônico simples. As palavras das conversas alheias que ecoavam e, depois de calarem-se, eram somente o eco na minha cabeça. A minha cabeça, o eco, o relógio e...  Tic-tac, tic-tac, tic-tac.


(Lembrar de imprimir o trabalho antes de entrar na sala, sacar o dinheiro para recarregar o bilhete único, reservar o livro do Waltz na biblioteca, procurar o presente da amiga que logo fará aniversário...)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Será que Fernando Pessoa conhece bem todas as suas pessoas como conhece a minha?
Será que ele me emprestaria Bernardo Soares,
Ou, ao menos, me pintaria na personalidade do patrão Vasques?

Se eu o tivesse, daria forma a minha vontade.
Se eu o fosse,
Seria inacção, sonho e solenidade.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Quarta-feira, 14 de março de 2012.



Capricho da imaginação.
Carrego a cidade nos olhos, e só uma pessoa a atravessa sem pedágio, sem prestígio, sem nada.
As imagens, as viagens de ontem - rua afora- são as minhas nostalgias de hoje. Como me apego às paisagens! Nos olhos, elas ainda são reais, têm vida, verde, fumaça e amargura.
A cidade é a minha crença. Não sei crer muito sem utilizar os sentidos ou a fatalidade das coisas. As casas dela são abrigos de sensações que não se abrem a pouco custo - são trancadas com o prazer inenarrável da escrita, da vontade plena de caber num verso, do efeito subjetivo da literatura. Cada cenário é uma contemplação distinta a ser perfeitamente zelada.
Menos eu mesma, embebo o coração de calma. Entretenho-me, e esqueço que sou pessimista (mas deixo o esquecimento à diligência da minha sensatez que há de voltar). Compro a passagem para visitar uma alma mais extensa que os olhos - e mais exausta também.
Gozo a tarde, a solitude e a vazão. Vivo as substâncias dos textos e subsisto em outro lugar longínquo da realidade direta, mas idêntico àquela pela qual as minhas prateleiras comportam.




(É claro que se hoje não me descrevi dentro de mais um dia, é porque... Ora, foi só mais um dia).

terça-feira, 13 de março de 2012

Terça-feira, 13 de março de 2012.

É, achei que não conseguiria escrever hoje.
Apesar dele, acordei querendo escolher uma roupa diferente, querendo me sentir bonita. Nunca fui de demorar para escolher roupa, e me maquiar, me pentear... – e fazer isso tudo de novo uma quantidade infindável de vezes, enquanto me olhando no espelho -, mas logo cedo me incomodei com as pontas do meu cabelo, e saí acertando-as com a minha tesourinha de cortar papel.
Do meu momento de vaidade até o momento em que eu quase fui atropelada (por atravessar a rua, correndo, para pegar o ônibus de costume), não aconteceu nada, para mim; não vi o dia passar.
Cochilei um pouco no ônibus, e quando acordei tinha uma joaninha (única miniatura voadora que não me causa repugnância) próxima à minha janela. Abri mais a janela, para aumentar a chance de ela conseguir sair – e ela saiu, como supunha que aconteceria.
A “Tram” e o meu professor de Direito me fizeram rir como nunca – meu professor, com o seu torcicolo, e a “Tram” com a sua cara de pau.
Depois de comer, ler e conversar durante a tarde, à noite tive mais uma aula de iniciação científica que, diga-se de passagem, embora pouco rentável, me deixou desesperada para estudar – tenho um certo  medo, por razões praticamente óbvias, do meu orientador.
Foi um dia longo e um dia meio vazio, meio cheio, sabem? – como os copos de água enchidos por alguém que não sente nem muito calor nem frio (e assim mesmo toma no frio para engolir melhor o remédio).
O meu remédio foi ignorar o meu lado piegas, não dar muito espaço (nem tempo) a atos involuntários, manifestações irracionais.
Choveu, enquanto eu esperava meu pai ir me buscar na saída da faculdade. Até os pingos de chuva caíam assim... sem algum impacto. Só agora, deitada na cama, esperando pensar em algo fiel a se escrever sobre qualquer ponto do meu dia e de mim, é que a chuva vem para me fazer efetivamente sentir - e  me fazer inundar.
... É.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Segunda-feira, 12 de março de 2012.


Parece que acordei em outro corpo; dormi mal, todo ele doía.
Com os olhos mal abertos (ainda depois de um banho bem tomado), coloquei uma calça jeans clara, uma blusa branca, de X nas costas, e um sutiã vermelho que não acompanhava o modelo da blusa. Depois de andar de um lado para outro, descalça, pela casa, calcei meu all star velho – e, dentro desse vestuário “blusa, calça jeans e all star” estava eu, em comunhão comigo.
Olhei-me no espelho, não vi nada além do de sempre: As pálpebras exageradamente inchadas ( e que, dessa vez, eu não tentei esconder com o meu “gel suavizante de olheiras” pouco útil); e os olhos... ah, nem preciso falar dos olhos, né? Contavam não só a noite mal dormida, como também que não tinham nada para contar.
Minha mãe logo entendeu o que eu nem havia dito, e fez o que pôde: Substituiu o café, da garrafa térmica, pelo suco de maracujá.
E no caminho de casa para a faculdade, meu pai me levava falante tentando me distrair com as suas histórias que têm lições de moral quase sempre envolvendo idoneidade.
No ponto de ônibus, de tão acostumada a receber uma mensagem de “bom dia” por volta daquele horário, senti meu celular vibrar, mas não era nada.
Fiquei lembrando o meu professor explicando o que significava dissonância cognitiva e associando a minha situação ao significado – confessei a mim, não me adaptar, com facilidade, às transformações.
Já sentada ao lado da janela do ônibus, meus cabelos, ainda molhados, bagunçavam-se ao redor do meu rosto. E a mochila no colo, não tirava o peso dos ombros.
Só quando cheguei na praça de alimentação da faculdade, tomando um café (expresso, dessa vez), fraquejei - quisera estar aonde eu moro; bater na porta do apartamento 63 e deitar a cabeça no ombro do Thã.
Até que, subitamente, desliguei-me dos meus pensamentos com uma voz que começou dizendo:
- Olá, Fernanda, você está bem?

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ao menos escrevo.





Continuo fria e dispersa. Colocara a culpa no medo, agora coloco na covardia. Nada se aproxima dos planos de menina, nem dos planos “menos menina”. E o que eu queria era ter palavras para mentir que estava vedada e não vi as coisas acontecem (nem vi a verdade contida nos meus anseios).
Desejava namorar alguém que me fizesse explodir de paixão (desatada em olhos alheios). Desejava ter ciúmes. Desejava morrer de ciúmes, sem bem conseguir dormir; pasmar de amor, sem conformismo e com ingenuidade; passar dia, noite, e madrugada com o pensamento preso, em horas soltas; roer as unhas de ansiedade para aquele alguém chegar, de ansiedade para saber se o futuro imitará o presente na sensação de que, todos os dias, a felicidade será buscada, ainda que dolorosamente. Desejava ser castigada pela força de vontade em não esmorecer.
Desejava imaginar coisas ridículas; não perder traços de ímpetos infantis enquanto (incomensuravelmente) apaixonada. Desejava dois minutos de apreciação, depois de horas de saudade.
Desejava, e desejava tanto. Mas não esperava que o desejo precisasse ser confeccionado com as minhas mãos.
Não esperava lágrimas de espera -  de espera vazia (mesmo depois das lágrimas). Não esperava o costume dos meus olhos e o compensar do meu coração; que a mágoa viesse seca a ponto de ser narrada e escrita no papel, e que atribuiria a culpa do meu mau desempenho, frente ao que aspiro, a mim mesma!
            Não esperava que minhas metas tornariam-se objeções vivas, vivas e latentes, racionais e distantes. São tão minhas as metas... Não porque são únicas, mas porque os sintomas, as reações que causam, são tão minhas!
O presente nada mais é que uma oportunidade de projetar o que há de vir. O presente que não é uma condição para o futuro, não é o meu tempo. É minha náusea.
Sinto-me livre, porque já vivi acorrentada à angústia de dizer - ainda angustio respostas pendentes com esforços que não bastaram para alcançar os desejos graves e intensos, sem repouso, sem ornamentos.
Esperava, pois não tivera hora marcada com os acontecimentos.
Agora é sim, ou não: Nada entre, nada mais.


domingo, 4 de março de 2012

A noite.

O olhar contornado pelo dia e, o recorte dele, desperto à noite - noite que sussurra o sono que sonha rasteiro e que resiste a você.
O relógio apita de hora em hora o tempo que vai; o tempo que se esvai fora destas linhas.
A madrugada toda e eu fumando o café, tomando o garoto em palavras de gole em gole.
Pasma, porque não traduzo o meu silêncio para além de três frases e uma oração, o mesmo silêncio parece ensaiar o paladar, para a chegada de algum outro significado emudecido, vindo da garganta.
Toda a abstração do mundo real incidida entre os olhos recompostos, os olhos desprovidos e os olhares avulsos. Trêmula, a janela responde a força que o vento faz. E a luminária me esquenta um lado do corpo, em especial. A garoa que cai, gradativamente, dá som ao silêncio implícito no quarto, mas enegrece mais a noite.
O ranger e o chorar de coisas, o passar da hora... Agora cantam sob outro volume anunciando a existência do silêncio sóbrio e comovido consigo.
São três e vinte e duas da manhã.