quinta-feira, 27 de junho de 2013

Eu poderia tatuar na pele
- do peito e do pensamento -
Um casal com letra de criança.
Mas o amor se tatua no jeito e se atua no gesto,
Se trança nas pernas
E se prende no paladar.

Poderia ilustrar nossos planos em algum quadro
Pintá-lo em algum quarto
Mas o amor está no branco dos olhos.
Mas o amor não cabe em cômodos,
E mora sem conforto e inconformado no coração.

Poderia, enfim,  escrever poesias,
Crônicas e contos sobre você,
Mas o amor se embola no canto das páginas
E  transcreve-se no rodapé.
















Para o meu passarinho.

quinta-feira, 28 de março de 2013




Só o que você precisa saber é que nós...
Nós sou eu mais você.
Nós é só a intersecção entre os círculos.
Um círculo sou eu. Você é o outro.
E nem eu, nem você, nos resumimos a "nós".

Que deveria se preocupar comigo
Não só se preocupar com a gente.
Que tem que querer saber como estou
Não só querer saber como estamos.

Precisa saber que sozinho também se está junto
Que junto também se está sozinho
Porque se separa do par,
Mas não se separa de si.

Só o que você precisa saber é que nós...
Nós sou eu mais você.
É que sós, sou eu mais você.
É que eu sou eu e muitos,
Mas também sou eu e ninguém.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Um par de calçados trocados


                A gente é uma combinação que não foi feita pra combinar. Somos um par de sapatos de número, modelo, cor e estampa diferentes, que ninguém – nem eu mesma- diria que, calçados, ficaria bom e daria pé.
                Tanto pé, que quando o seu anda na frente - o bastante para impor alguma distância -, e eu me inspiro na sua personalidade, tiro uma caneta do bolso, da bolsa ou da orelha e procuro um papel, uma notinha de supermercado jogada na bolsa, um guardanapo ou papel de pão só pra escrever o que tá pronto pra tomar forma no papel, mas tá saindo com um peso que só existiria mesmo se esses dias fossem como são - dias carregados de meses.
                A partir do pensamento escrito, então, você,  em algum instante do meu tempo, está próximo da minha realidade mais factual. A realidade em que sou eu, o café e os bocejos pelas pessoas. O silêncio - e, apesar de tudo, as palavras do papel em pedaço.
                A minha vida, se eu pudesse coordenar, seria uma aliteração fundida em: Planta, pincéis e pintura, piano, poesias. E como eu posso, a minha vida involuntariamente é coordenada por você- porque ainda falta eu decidir como quero fazer o que quero fazer comigo sozinha no mundo.
                E mesmo quando está longe, só o que sei é que não é o hábito de arrancar cutículas junto das “pelinhas semi-soltas” dos lábios, com os dentes, que incomodam... São as minhas interrogações e a sua ausência que descontrola a minha calma e altera as disposições de tudo. Quando está longe eu sinto o seu cheiro  e ninguém consegue inala-lo tão bem quanto eu. A dor é inerente ao amor ou à busca pela felicidade? Às vezes acho tristemente que sim, que ambos. Às vezes, felizmente, sim.
                E é por isso que, tantas vezes, eu posso anular o que eu sou - esse sapato alternativo, mas velho e com estampas batidas- para entender, viver e amar você.