sábado, 12 de janeiro de 2013

Um par de calçados trocados


                A gente é uma combinação que não foi feita pra combinar. Somos um par de sapatos de número, modelo, cor e estampa diferentes, que ninguém – nem eu mesma- diria que, calçados, ficaria bom e daria pé.
                Tanto pé, que quando o seu anda na frente - o bastante para impor alguma distância -, e eu me inspiro na sua personalidade, tiro uma caneta do bolso, da bolsa ou da orelha e procuro um papel, uma notinha de supermercado jogada na bolsa, um guardanapo ou papel de pão só pra escrever o que tá pronto pra tomar forma no papel, mas tá saindo com um peso que só existiria mesmo se esses dias fossem como são - dias carregados de meses.
                A partir do pensamento escrito, então, você,  em algum instante do meu tempo, está próximo da minha realidade mais factual. A realidade em que sou eu, o café e os bocejos pelas pessoas. O silêncio - e, apesar de tudo, as palavras do papel em pedaço.
                A minha vida, se eu pudesse coordenar, seria uma aliteração fundida em: Planta, pincéis e pintura, piano, poesias. E como eu posso, a minha vida involuntariamente é coordenada por você- porque ainda falta eu decidir como quero fazer o que quero fazer comigo sozinha no mundo.
                E mesmo quando está longe, só o que sei é que não é o hábito de arrancar cutículas junto das “pelinhas semi-soltas” dos lábios, com os dentes, que incomodam... São as minhas interrogações e a sua ausência que descontrola a minha calma e altera as disposições de tudo. Quando está longe eu sinto o seu cheiro  e ninguém consegue inala-lo tão bem quanto eu. A dor é inerente ao amor ou à busca pela felicidade? Às vezes acho tristemente que sim, que ambos. Às vezes, felizmente, sim.
                E é por isso que, tantas vezes, eu posso anular o que eu sou - esse sapato alternativo, mas velho e com estampas batidas- para entender, viver e amar você.

     



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