terça-feira, 17 de abril de 2012

O rosto dele e ele.


O rosto dele não é uma ilustração dos seus sentimentos. Parece que ele não gosta de se deixar sentir nada, não quer deixar transparecer nenhum interesse nunca; e faz isso sem o menor esforço.
Ele tem lábios nem muito finos, nem carnudos demais. Quando sorri, o superior se reduz e dá espaço pro meu sorriso.
De todo o resto, o que há de menos implícito nele são os olhos. E assim mesmo são forrados, cobertos de mistério e quase sempre encolhidos; quase sempre silenciosos. Minha intuição diz que ele mora por completo, ali, dentro deles, e mal sabe o porque disso.
É como se ele fosse capaz de ler cada pessoa, como um narrador onisciente. E, ao fazer isso, indiretamente me intima a tirar mil análises e interpretações de seus gestos e características.
Para mim, o rosto dele e ele estão distantes de todos os planos, entendimentos e conclusões. Não podem ser evidências, mas também não podem ser anulados. São sonhos duplamente impossíveis.
O rosto dele e ele, para mim, é todo um par de olhos sem coração.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Do Intangível.

Eu queria dizer que passei o dia inteiro com o coração em uma mão, o mouse em outra e a cabeça perdida em algum instante no ontem; que conectei o carregador do celular no celular, mas não na tomada; que fiquei lutando e relutando, bravamente, comigo para tentar estudar e para que, a partir do momento que você aparecesse online em alguma rede social, a tentativa fracassasse de vez.
Eu queria dizer que me sinto uma criança de três anos por mal te conhecer, e reler, com devoção, suas falas sem acentos e com autenticidade.
Eu queria dizer que ri das lembranças de minutos antes, e continuei rindo quando os minutos passados viraram horas atrás. Queria dizer que fiquei me perguntando o que farei quando te ver; me perguntando se se eu premeditasse um comportamento, me lembraria dele e agiria no momento preciso; perguntando-me como era possível ocupar a imaginação com tão poucas circunstâncias de condições nos envolvendo.
Eu queria tanto dizer. Eu queria tanto saber.
Até que, finalmente diante de você, as minhas vontades e dúvidas restringem-se a:
- Olá. Tudo bem?
(-:


domingo, 8 de abril de 2012

A rotina, o relógio, a resignação.


Penteava o cabelo com os dedos (um ou outro travava num ou outro nó, até deslizarem todos juntos, e encontrarem-se no início d’outros fios) enquanto o “zumzumzum” das conversas - de fundo - tentavam, persistentes, interromper os meus pensamentos - de superfície.
Pensava sobre a ânsia da verdade abstrata ser... verdade. Eis que minha rotina começou a me corromper.
Os meus olhos sentiam sono, meu corpo sentia um marasmo. E os meus olhos se comportavam de modo tal que fechavam, abriam, olhavam para os cantos mais próximos, e repetiam esse processo uma quantidade considerável de vezes. Dentro da minha cabeça eu cantava, resmungava e exclamava: como seria prazeroso mentir!
Uma mão encostou no meu ombro, como algo tão pesado quanto a consciência de ter sido um tanto cruel nas minhas imaginações.
Sacodi a cabeça, pisquei rapidamente os olhos. Senti-me sendo resgatada de uma vertigem central.
Um pouco zonza ainda, com as aventuras que tivera vivido dentro da cabeça, disse: Oi... – e com os olhos mais atentos, o reconheci - Nossa, quanto tempo!
O papo não perdurou muito, foi como uma outra vertigem de vias estreitas, cheias de declives, e desvios e curvas e... estava tão difícil andar com a conversa! Eu queria, mas ela carregava uma pesada carga de passado, acompanhada de um coeficiente de atrito muito maior que a minha força (ou capacidade) de dirigir.
Então, de repente, era eu, o relógio e a sua onomatopeia. Movimento harmônico simples. As palavras das conversas alheias que ecoavam e, depois de calarem-se, eram somente o eco na minha cabeça. A minha cabeça, o eco, o relógio e...  Tic-tac, tic-tac, tic-tac.


(Lembrar de imprimir o trabalho antes de entrar na sala, sacar o dinheiro para recarregar o bilhete único, reservar o livro do Waltz na biblioteca, procurar o presente da amiga que logo fará aniversário...)