domingo, 8 de abril de 2012

A rotina, o relógio, a resignação.


Penteava o cabelo com os dedos (um ou outro travava num ou outro nó, até deslizarem todos juntos, e encontrarem-se no início d’outros fios) enquanto o “zumzumzum” das conversas - de fundo - tentavam, persistentes, interromper os meus pensamentos - de superfície.
Pensava sobre a ânsia da verdade abstrata ser... verdade. Eis que minha rotina começou a me corromper.
Os meus olhos sentiam sono, meu corpo sentia um marasmo. E os meus olhos se comportavam de modo tal que fechavam, abriam, olhavam para os cantos mais próximos, e repetiam esse processo uma quantidade considerável de vezes. Dentro da minha cabeça eu cantava, resmungava e exclamava: como seria prazeroso mentir!
Uma mão encostou no meu ombro, como algo tão pesado quanto a consciência de ter sido um tanto cruel nas minhas imaginações.
Sacodi a cabeça, pisquei rapidamente os olhos. Senti-me sendo resgatada de uma vertigem central.
Um pouco zonza ainda, com as aventuras que tivera vivido dentro da cabeça, disse: Oi... – e com os olhos mais atentos, o reconheci - Nossa, quanto tempo!
O papo não perdurou muito, foi como uma outra vertigem de vias estreitas, cheias de declives, e desvios e curvas e... estava tão difícil andar com a conversa! Eu queria, mas ela carregava uma pesada carga de passado, acompanhada de um coeficiente de atrito muito maior que a minha força (ou capacidade) de dirigir.
Então, de repente, era eu, o relógio e a sua onomatopeia. Movimento harmônico simples. As palavras das conversas alheias que ecoavam e, depois de calarem-se, eram somente o eco na minha cabeça. A minha cabeça, o eco, o relógio e...  Tic-tac, tic-tac, tic-tac.


(Lembrar de imprimir o trabalho antes de entrar na sala, sacar o dinheiro para recarregar o bilhete único, reservar o livro do Waltz na biblioteca, procurar o presente da amiga que logo fará aniversário...)

Um comentário:

  1. "Dentro da minha cabeça eu cantava, resmungava e exclamava: como seria prazeroso mentir!"

    Essa frase é tão reflexiva que eu poderia passar dias pensando na sua quantidade de significados e aplicações, dentro de diferentes sentidos.
    Seus textos são o máximo.

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