domingo, 21 de dezembro de 2014

saia, saia não.




saia rodada de retalhos
(de desenhos com formas redondas e cores)
a saia que embola, que cruza e descruza
estica, roda e rebola
e termina no chão:

essa é a saia de sexta e do sábado à noite
às vezes, da segunda e da quarta também.

as curvas, balanços e cruzares
encurtam o comprimento,
esticam e compartilham o seu tecido n'outro corpo

um vento
pr´eu ver o que você esconde
uma música
para sentir

tomara que saia
tomara que caia
em um abraço
em um amasso - de "dezipar".
tomara que o mundo  ao redor de ti
se contagie com a beleza de teu saltitar.

tomara, tomara, tomara
que tua saia
não saia
daqui.



domingo, 14 de dezembro de 2014



Só queria me deitar, mas aceitei o café
- E o seu dia? – ele perguntou
Olhei para a xícara que encostara nas coxas esticadas no chão
Dali a dois segundos, o seu dorso fazia par com o meu apoiado na cama.
Seus pés alcançaram a parede e ficaram de pé, nos assistindo - de pé e de plantão
Como também ficavam em nós, as palavras e as horas noturnas da realidade.

Neste pensar entre nuvens é que meus cabelos se deitaram em seu peito quase nu
Onde a clara cor dos seus fios desarrumados
Mal transpareciam entre o liso negro ininterrupto.

A luz apagou no interior da casa.
Com ela, a linha que conduzia os nossos pensamentos ao nosso desejo e mistério.
Ainda bem: A luz se apagou.

Neste momento,  tudo estava desafinado e destoava
Toda a imaginação, os olhos e objetos
Jogaram-se pelos quatro cantos do quarto.
O pires no criado-mudo, os sapatos sem caminho, 
As braçadas de um nadar ofegante 
Rodopeios e rodeios sem mão e com.

A intensidade sobre a imensidão abrigadas entre nós.
A ação há tempos abstida, e a espera que dosa o coração... desespera!
Enquanto nossas costas deslizam quentes e, rapidamente, para o piso.

... Era a sua batida intensa e silenciosa pelo meu corpo
Ternurando o suspense com ritmo eletrizante de autenticação.



sábado, 22 de novembro de 2014





Aurora, Aurora...

Esses dias, estive pensando nesses consensos, nesses juízos, nessas doutrinas e nesses valores que me embutiram como se fossem estáticos e meus.
Esse assunto já deve estar batido, não é? Mesmo assim, quero compartilhá-lo com você.
Pois bem. Essa contestação não é só minha, ela permeia a pós-modernidade: fragmenta identidades; movimenta grupos e populações em busca de um ideal comum e à contrarregra do que os fora imposto; é capaz de construir uma lógica de coletivismo e alterar percepções, mudar ideias de Estados e de nações.

Afinal, quem é que inventou a Verdade? O Dono da Verdade?
Quem é que inventou a Justiça? O Dono da Verdade?
Para conferir e acompanhar o que nos foi pré-estabelecido, deveríamos ir atrás e consultar este Senhor, entender se o Estado está em dia com as suas instituições, se as pessoas estão em dia com os seus costumes, seus hábitos, seu cotidiano e suas vontades individuais.
Se a Verdade tivesse um só dono, não seria Verdade o princípio da democracia. Se ela tivesse um dono só, existiria distribuição de poder?
Eu duvido que, este dono, se existisse e pudesse confeccioná-la, faria a Verdade tão à mercê do discurso, o discurso tão à mercê da Interpretação. Eu duvido mesmo, meu amor. Ninguém o perdoaria por esse erro – nem eu!

A proposta, então, é a seguinte: reinventar a Verdade. Só assim seremos mais livres, pode apostar. Vamos meninar, folgar, dormir juntos todos os dias-, se isso acontecer.
A Verdade (se eu mesma concordar) será viver o mundo minuciado em fantasias, fetiches, boca cheia de água... Será a expressão natural de tudo, sangue, paz e violência.

Observe bem,  o  indivíduo está cada vez mais difícil de localizar-se em espaço, tempo, identidade. Tudo isso porque alguém inventou os rótulos como atos e efeitos de observar.
Por exemplo: Quem é que disse que a felicidade sem angústia, sem ansiedade e aflição, é a melhor coisa do mundo? Felicidade não pode ser contentamento, mulher! Felicidade assim é ruim, eu não gosto. E você? Você, o que acha?

Mundo social e mundo cultural é do que eu venho falar aqui, minha Aurora. Vamos discutir sobre essa regra e essa régua que traçaram e denominaram "Ordem"?
Dessa forma, a Verdade suscitará como aquilo que não se explica, que é desautorizado de poder e relativo. A Verdade se apresentará como o desejo ( leia-se marginalização da moralidade); a subversão inimaginada. 
Para mim, que quero redefinir, será o desalojamento e a descontinuidade; a descentralização e o deslocamento humano de onde ele quiser ir para onde ele quiser estar.

Enfim. Tomara que estejamos em tempo de mudar as Verdades do mundo.

Um beijo na boca,

"Fer".