sábado, 26 de maio de 2012


Como é graciosamente longínqua a ideia de carregar um filho seu. Fiquei montando e, depois, emoldurando, na minha cabeça, como ele e as coisas seriam: Ele teria olheiras leves sob olhos fundos; teria um sorriso malicioso como quem acaba de fazer algo errado; um jeitinho metódico; a barriga fofa.
Que lindo é o filho que não temos! Todos diriam que é a sua cara. E eu ficaria tentando achar semelhanças, entre mim e ele, na orelhinha, no nariz ou nas manias. Ele seria todo você - a vó diz que os meninos sempre puxam o pai.
Eu o ensinaria o português e o mandarim, você o inglês britânico e, sem admitir, o ensinaria como ter a sua postura, a comportar-se como você.
Todas as vezes que o visse, o viria com a inconformidade de ter, um dia, odiado crianças. Todas as vezes que o visse abraçar a sua batata da perna, se inclinaria, só um pouco, para passar as mãos nos cabelos do pequeno, e voltaria a se pôr na coluna rigorosamente reta -mas com os olhos já polidos de severidade, e afáveis.



Cabe duas de mim neste seu agasalho? Cabe, entre a gente, um pouco mais que tesão, culinárias e segredos.
Vamos tomar tequila ou um suco refrescante? Vamos viajar para qualquer lugar, ou andar sem destino? Vamos fumar um cigarro, cantar Los Hermanos, tirar foto de tudo?
Vamos ter o nosso filho, o nosso cômodo no nosso canto?
Eu te amo.

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