De
tantas ideias que inundaram a minha mente, cheguei a pensar que, num soluço, eu
explodiria e me desmancharia em palavras desconexas, um bocado de letrinhas
soltas no ar.
Não
imaginas, mas... Não te escrevi logo depois do livro roubado e presenteado, porque
eu queria que as palavras viessem para mim como vêm agora – estranhamente
casuais.
Will,
não sei explicar muito bem coisas tão concretamente factuais como a nossa
amizade. Queria fazer algumas metáforas, para tentar dizer melhor:
Cobertura
vegetal. Quando cai a chuva e cai antes sobre as folhas das árvores a chegarem
com menos impacto no solo... sabes, me causa isso: tudo o que é problema -
chuva forte – que derramo sobre você,
você minimiza a fazer que até mim chegue só o que já foi em parte suportado;
aliviadas gotinhas que penetram num campo real como um solo que, apesar de
úmido, não afogam os meus pés.
Quando
torço uma roupa e meus braços ficam mais fortes, talvez seja como torcer
aquelas angústias que a falta de conhecimento me traz. E, por exemplo, a
conceituação do que é o amor ou do que é a família, destorcem o pano. Por
alguns instantes, chacoalho a roupa como se chacoalhassem as outras tantas
concepções advindas dessa e... E a visto – agora com os músculos, dos braços,
descontraídos, mas com a sensação de estar ainda mais forte; menos angustiada.
Enquanto
você quase transforma as abstrações em objetos palpáveis, por ter tanto domínio
das coisas que diz, eu só consigo pensar em um pouco de literatura e análises
de linguística. Não consigo nem dizer.
Sim,
descobrimos o amor e por isso não vou tentar fazê-lo caber aqui (nem
metaforicamente). Atrevo-me ainda menos, quando tampouco espremo os dizeres
afetuosos a serem ditos na tentativa de aqui fazê-los caber - com um pouco de
fidelidade - ou de fazê-los compactarem
com aqueles mais dispersos na mente por um triz de um soluço.
Frente
à convivência, à confiança e tudo o mais, resta-me me desculpar pela falta de
completude e lembrar-te daquele conto em que Dito morreu – conhece esse?
Pois
bem. O fato é que Dito morreu e, nessas horas, convenço-me de que só eu,
Guimarães Rosa e Miguilim, conhecemos a dor da perda do dito.
Para: William Paniccia Loureiro Junior.
=)
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