quarta-feira, 14 de março de 2012

Quarta-feira, 14 de março de 2012.



Capricho da imaginação.
Carrego a cidade nos olhos, e só uma pessoa a atravessa sem pedágio, sem prestígio, sem nada.
As imagens, as viagens de ontem - rua afora- são as minhas nostalgias de hoje. Como me apego às paisagens! Nos olhos, elas ainda são reais, têm vida, verde, fumaça e amargura.
A cidade é a minha crença. Não sei crer muito sem utilizar os sentidos ou a fatalidade das coisas. As casas dela são abrigos de sensações que não se abrem a pouco custo - são trancadas com o prazer inenarrável da escrita, da vontade plena de caber num verso, do efeito subjetivo da literatura. Cada cenário é uma contemplação distinta a ser perfeitamente zelada.
Menos eu mesma, embebo o coração de calma. Entretenho-me, e esqueço que sou pessimista (mas deixo o esquecimento à diligência da minha sensatez que há de voltar). Compro a passagem para visitar uma alma mais extensa que os olhos - e mais exausta também.
Gozo a tarde, a solitude e a vazão. Vivo as substâncias dos textos e subsisto em outro lugar longínquo da realidade direta, mas idêntico àquela pela qual as minhas prateleiras comportam.




(É claro que se hoje não me descrevi dentro de mais um dia, é porque... Ora, foi só mais um dia).

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