terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Hoje.

Hoje eu acordei, escovei os dentes, folheei rapidamente um jornal de ontem e vesti um uniforme velho. Depois ajeitei a cabeça da minha irmã no travesseiro, dei um beijo em sua testa e saí.
Estava frio. O ar gelado entrava por entre o meu agasalho e fazia arrepiar minha pele. O cachecol que cercava meu pescoço desabrochava sob meus ombros conforme eu andava, e sentia meu nariz esfriar mais que qualquer outra parte do rosto.
Entretanto, a claridade que vinha do céu e que fazia o dia parecer dia, beijou meus olhos.
Eu ouvia atentamente cada som externo como se, a partir dali, eu nada pudesse arrancar de dentro além do pleno silêncio refletindo todo o vazio que já cansou de me incomodar.
Hoje eu me dividi em mil partes, sem identificar nenhuma delas.
Eu estou aqui, mas também estou lá. Estou te ouvindo e na mesma hora tentando ler o lábio de um, os olhares de outro.
Hoje eu abandonei as extremidades que tanto me seduzem e adotei os meios termos, as opiniões em cima do muro, as respostas curtas.
Hoje só esboço meio sorrisos. Meus olhos são fixos.Dispensei a demora nos abraços.
Hoje as perguntas se calaram e as incertezas sussurram de um jeito agradável e conquistador.
Estou estagnada, porém sinto-me viva. Peguei as dores de todas as injustiças do mundo; peguei a pureza de cada criança em cada calçada.

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